quinta-feira, 25 de julho de 2013

Direto do túmulo: a desgraça, que se perpetuará eternamente nos corações dos reais apreciadores do metal negro.

Por Renato Nascimento: As bandas/hordas do cenário extremo de nosso país, em sua grande maioria, possuem um compromisso real com a ideologia a frente de seus trabalhos, e são verdadeiras forças de niilismo e contestação, movidas por uma sonoridade ríspida e direta. Podemos perceber que, assim como diversos outros estilos de música, há também um padrão para o Black Metal, e muitas vezes a sonoridade parece até ser deixada de lado por algumas bandas/hordas. Este com certeza não é o caso da finada Perpetual Disgrace, trazendo uma sonoridade extremamente original, a horda conseguiu conquistar diversos apreciadores, trazendo elementos ao Black Metal bem característicos do Heavy Metal, mas sem soar como um mero flerte dos dois estilos e sem se utilizar de inovações mirabolantes. Infelizmente a horda encerrou suas atividades, mas deixou para a eternidade um legado de caos e blasfêmia, e ainda hoje o som da Perpetual Disgrace desperta interesse dos reais adeptos do metal negro, tendo inclusive gravado um album póstumo que ainda está para ser lançado. Confiram detalhes a respeito dos motivos para o fim da horda nesta entrevista concedida pelo mentor da Perpetual Disgrace, Peter Kelter, que nos deu detalhes também à respeito do album póstumo e de seus projetos atuais.

Ruído Macabro: Saudações Peter! Muito obrigado por nos conceder esta entrevista! Você foi o criador da Perpetual Disgrace, uma banda que figurou durante uma década no cenario extremo brasiliero, mas infelizmente teve seu fim anunciado em 2012. Conte-nos um pouco sobre os primórdios da Perpetual Disgrace.

Peter Kelter: Saudações Renato! O início foi interessante, eu conhecia um baixista, coloquei alguns cartazes em lojas de CDs, bares onde o pessoal frequentava, e foi assim que encontramos os outros membros, ensaiávamos na casa do baixista, e como acho que toda banda tivemos problemas com vizinhos, passamos a ensaiar em estúdios, mas corremos atrás, o Perpetual estava nascendo, no começo mesmo, nós tínhamos um vocalista, mas o cara era um vadio, vinha em um ensaio e faltava em 3...E sempre que ele faltava eu tapava o buraco...Tiramos ele da banda, e eu acabei ficando definitivo...Mas a banda tava surgindo do nada, precisávamos de um logo, precisávamos compor, tocar, divulgar e etc...Quando aceitamos o convite de participar da primeira apresentação, que foi em Presidente Prudente, as músicas nem estavam prontas...E tinha um mês pro show, ensaiamos um monte, fizemos uma correria fodida, rolou porrada, foi tenso pra
caralho, mas foi uma experiência interessante, eu mesmo nunca tinha pisado em um palco, mas deu certo...Depois disso trabalhamos mais nas músicas e começamos e gravação da primeira demo.

Ruído Macabro: Quais os motivos que levaram o Perpetual Disgrace a encerrar suas atividades?

Peter Kelter: Olha, o lance de estar todo mundo morando longe complicou bastante, o
Perpetual sempre foi uma banda de existir ao vivo, ensaiando constantemente e tocando aonde fossemos convidados...Ai não dava, isso, somado aos atrasos nas gravações do álbum, que não saia, e todo mundo perguntava e perguntava...Aquilo foi criando um mal estar, a iniciativa de encerrar a banda foi minha, eu percebi que a coisa começou a entrar em decadência, que tava virando uma banda de Internet, que não toca, não lança não ensaia, não faz porra nenhuma, e achei melhor parar do que existir assim...Mas essa gravação virou meio questão de honra, e vai sair, mesmo sem banda, vai ficar esse legado que é o álbum, o Black Sperm!

Ruído Macabro: O Perpetual Disgrace lançou duas demos de forma independente, a primeira, auto-intitulada, saiu em 2003, e a segunda, Triumph of the Satan's Steel, foi lançada em 2005. Como foi a recepção do público e da mídia especializada, para estes trabalhos?

Peter Kelter: As duas foram bem recebidas, tiveram um retorno bom, na época da primeira
demo, não sei como, muita gente de longe do Paraná, norte, nordeste, Centro oeste, começou a mandar cartas, falando que tinham gostado do material, querendo saber mais, fiz trocas com o pessoal das outras bandas, no Brasil e exterior, em relação a mídia especializada foi interessante, teve um bom retorno,
saiu em alguns blogs, teve resenha na Brigade, Roadie Crew, Valhalla, a Triumph of Satan’s Steel saiu como destaque da Roadie Crew, ao mesmo tempo que a Brigade falou mal pra caralho....Vai entender né? Mas eu não me prendo a isso, claro, é bom ter uma resenha positiva de uma revista, mas pra mim, vale muito
mais um brother, cara que conhece de som, sincero e honesto, chegar e falar que curtiu, que gostou do som, do que um jornalista, que eu sei lá quem é, que no mesmo dia as vezes fala mal do Motorhead, ou fala que as letras do Show no Mercy são infantis (infantil é o cu da mãe dele) e fala bem de uma merda ai tipo
Korn da vida...Mas no geral, a receptividade foi muito boa, muitas vezes, quando íamos tocar, e as pessoas conheciam o som, pediam por uma música, às vezes cantavam um refrão, e isso não tem preço!

Ruído Macabro: Ainda estão disponíveis estes dois lançamentos?

Peter Kelter: Sim, tem ainda, tanto a Triumph quanto a Perpetual Disgrace...Quero por no
mercado mesmo, de um jeito mais decente, estávamos comprando aqueles CDs brancos, gravando, montando a caixinha...Eu pretendo fazer o CD silcado, um material mais bem acabado, mas quem quiser adquirir o material ainda tem disponível.

Ruído Macabro: Qual a ideologia à frente destes trabalhos?

Peter Kelter: Blasfêmia, heresia, orgia...Mais ou menos isso, atos de apostasia, heresia, de afirmar a negação a cristo, são maneiras de se atacar a religião, e demonstrar o repulsa em relação a ela, o Perpetual sempre teve uma postura anticristã, explícita em suas letras, a religião não liberta ninguém ao contrário, ela engana e escraviza...Falamos de diversos temas, guerras apocalípticas, demônios matando humanos, demônios fazendo orgia com mulheres, suicídio, necrofilia e temáticas obscuras em geral, temas que mechem com o lado mais sombrio da imaginação, nunca abordamos nada sobre política, injustiça social etc...Ficar pagando de revoltado não! Não é do meu interesse, é um pé no saco, prefiro fazer letras que e perfilhem mais com o Venom, o antigo Slayer, Belphegor e Sarcófago!

Ruído Macabro: Sei que está em processo de finalização, o full-lenght póstumo do Perpetual Disgrace, o album terá alguma regravação ou será composto apenas por músicas inéditas?

Peter Kelter: Serão oito músicas no total, quase todas já vinham sendo executadas ao vivo, mas 7 não tinham sido registradas em estúdio, serão 7 sons novos, e uma regravação da faixa Barrabas, que saiu na nossa primeira demo, esse som o pessoal sempre gostou, acho que até hoje não teve um show que ele não fosse tocado, a gravação que está na primeira demo não ficou muito legal, a banda mudou, evoluiu um pouco, e essa faixa merece um registro mais decente...

Ruído Macabro: Qual a formação que gravou este novo registro?

Peter Kelter: Eu, guitarra e vozes, Guigão, na batera, Junior Bonora nas guitarras, e nosso brother de longa data Daeroth Inglorion, que vinha fazendo o baixo nos shows (já que estávamos sem baixista fixo) gravou o baixo.

Ruído Macabro: A respeito da forma em que o álbum será lançado, vocês optaram novamente por lançar independentemente, ou há algum selo envolvido?

Peter Kelter: Na verdade ainda não sei...Vou lançar independente em último caso, eu tenho vontade de lançar por algum selo, que seja responsável, honrado, que faça um trabalho sério, lançar independente só em último caso mesmo, não que esteja arrependido, ou criticando essa forma de lançamento, mas exige um investimento que no momento não é viável.

Ruído Macabro: Das diversas apresentações feitas pelo Perpetual Disgrace nestes 10 anos de existência, há alguma que você destacaria?

Peter Kelter: Teve vários eventos que foram marcantes, importantes mas um que eu destaco, e me orgulho de ter tocado, foi num evento open air, num sítio, na cidade de Paissandu – PR próximo de Maringá....Marcou pelo profissionalismo da organização, que foi feita pelo Laércio, que era do Holder, que infelizmente morreu a pouco tempo, e era um puta cara gente fina, educado, prestativo, irmão do underground, que nos convidou, um evento feito por headbanger pra headbanger, alem disso o cast tava muito bom, galera camarada, lembro que tava frio pra caralho, mas isso não afastou o pessoal que foi lá pra prestigiar as bandas, esse evento foi foda!

Ruído Macabro: Você também era o mentor do extinto Satanic Lust (Sacófago Cover), conte-nos um pouco a respeito deste projeto, e também se possível, a respeito dos motivos para o término da banda.

Peter Kelter: O Satanic Lust, mesmo sendo levado muito a sério, sempre foi uma coisa secundária, não ia priorizar a banda cover, em primeiro plano sempre ficava o Perpetual Disgrace, todos os envolvidos tinha em comum que tocavam em bandas autorais (Féretro, Dark Flames, Vlad Dracullare...), e gostavam do Sarcófago, procurávamos fazer uma homenagem à altura do legado do Sarcófago, que havia influenciado todos nós...Musicalmente, principalmente a parte lírica, Sarcófago é minha maior influência. Nos paramos de tocar porque o batera saiu, ficamos um ano na busca de outro,mas não achamos, ou o cara já tinha compromisso, ou não gostava do som, ou não aguentava tocar...Depois nossa vocalista mudou pra São Paulo, e mora lá até hoje, e ficou complicado retornar, eu tenho vontade...Sei que é difícil, guardo ótimas memórias dessa época!

Ruído Macabro: Peter, você está envolvido com um novo projeto chamado: Thunderlord, qual a proposta e a formação da banda?

Peter Kelter: A proposta é simples: Tocar Heavy Metal puro e sem frescuras! Sem querer inovar ou reinventar a roda.
Eu sempre fui muito fã e inflenciadíssimo por Heavy Metal Tradicional, bandas como Manowar, Grave Digger, Running Wild, Judas Priest, Accept, Iron Maiden etc...É uma vontade antiga, eu via os shows do Hazy Hamlet, Fright Night, Dragonheart, e os caras tocavam um puta som, e eu tinha muita vontade de fazer
um som nessa linha, ai no último ano do Perpetual, que quase não estávamos ensaiando, rolou de compor e gravar, a banda é “one man band” eu gravo guitarras, vozes e o baixo, a bateria é programada...E quero agora achar um pessoal fixo pra fazer os lances ao vivo...

Ruído Macabro: A algum lançamento planejado para o Thunderlord?

Peter Kelter: Sim, vai sair o álbum! As gravações estão terminando! To bem animado com elas!

Ruído Macabro: Como você avalia o cenário extremo do estado do Paraná e também do Brasil? Há alguma banda que você gostaria de destacar?

Peter Kelter: A coisa tem crescido, e tem melhorado ao meu ver, as bandas estão ficando mais profissionais, lançando materiais de qualidade, exigindo mais de si mesmas, e do  material que estão pondo no mercado, sempre houve aquele problema da falta de estrutura, reconhecimento, equipamento bom essas coisas, e das pessoas não darem valor, achar caro pagar R$ 10,00 ou R$ 15,00 num CD de uma banda nacional, ou na entrada de um show underground, mas torra dez vezes isso em bebida, droga ou ingresso de show gringo...Uma banda que eu admiro, pela postura, empenho, ideologia, união dos membros, conheço o trabalho de perto, eles que fazem um trabalho de qualidade suprema, são os brothers do Hurtgen,
de Maringá!

Ruído Macabro: Para finalizar, cite 3 trabalhos (álbuns, demos e etc.) que você considere indispensáveis para qualquer apreciador do som extremo underground.

Peter Kelter: A lista é ampla, mas esses álbuns eu freqüentemente ouço e me surpreendo a
cada audição:
Sarcófago – INRI
Venom – Black Metal
Manowar – Sign of the Hammer

Ruído Macabro: Então é isso Peter, muito obrigado pelo tempo que você nos disponibilizou, e ficamos no aguardo, não só do album póstumo do Perpetual Disgrace, mas também dos lançamentos do Thunderlord. Hail

Peter Kelter: Eu que agradeço Renato, por conceder o espaço, fico contente em saber que há ainda interesse pelo legado do Perpetual Disgrace, e curiosidade a respeito do
Thunderlord! Espero ter esclarecido as tuas perguntas! Até mais!

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