quinta-feira, 22 de maio de 2014

Dragonheart: 17 Anos de Batalha no Underground Nacional

Entrevista realizada pelo colaborador Peter Kelter:

Com 17 anos de batalha no underground nacional, o Dragonheart em breve irá nos brindar com um novo album, que promete trazer algumas inovações favoráveis ao Heavy Metal pesado e bem trabalhado praticado pela banda. Confiram detalhes sobre a trajetória e sobre os novos rumos da banda, que já possui em em sua discografia 3 albums e uma coletânea.



Ruído Macabro: Saudações! Nos sentimos honrados em poder realizar esta entrevista!
O Dragonheart está desde 1997 batalhando no cenário metálico nacional, e já lançou 3 álbuns e uma coletânea, sempre obtendo ótimo respaldo em âmbito nacional, conte-nos um pouco sobre os esses 17 anos de atividade.

Taborda: Apesar de não termos tocado tanto quanto gostaríamos, nem lançado mais álbuns, nunca deixamos de ter contato e nunca pensamos em paralisar as atividades da banda. Tivemos que superar vários problemas pessoais, principalmente nos últimos cinco anos, mas conseguimos e estamos de pé. Estamos esse tempo todo na ativa porque o heavy metal está em nosso sangue e valorizamos demais o trabalho que realizamos e principalmente as pessoas que conhecemos em todo esse percurso. Claro que nem tudo foi divertido, mas podemos dizer que tudo isso valeu e vale a pena. Principalmente pelo apoio que temos recebido do público, com manifestações verdadeiras, que nos deixaram realmente motivados a voltar realmente à ativa e dar sequência à nossa história com um novo álbum.

André: Se me permite fazer uma parte, de 2002 para cá, foram diversos desafios. Comecei a participar da banda numa fase boa. Atravessei junto com ela os anos mais difíceis, quando todos nós tivemos problemas pessoais que demandava muita atenção da parte de cada um. Mas a amizade e a vontade de continuar fazendo música prevaleceram e, mesmo as condições atuais sendo totalmente adversas, uma vez que praticamente não existe mais uma indústria fonográfica e o mercado para heavy metal não esteja em expansão, é muito bom continuar fazendo as músicas que gostamos e como amigos, estarmos juntos nos novos objetivos.


Ruído Macabro: Quais são as metas da banda para o presente/futuro próximo? O lançamento do álbum comporta uma turnê?

Taborda: Nossa intenção é lançar o novo álbum, The Battle Sanctuary, no início do segundo semestre de 2014. Infelizmente nossas agendas pessoais não permitem grandes turnês, mas temos grande vontade e faremos um esforço para conseguirmos tocar em lugares que ainda não tocamos ou que não tocamos faz muito tempo. Sempre ficamos no quase para irmos ao Nordeste, mas tomara que agora dê tudo certo. Temos também um show engasgado em Maringá, aonde chegamos a ir até a cidade e acabamos não tocando por motivos externos. A partir do lançamento do novo álbum, estamos abertos a propostas!

Ruído Macabro: O novo álbum vai seguir a mesma linha, ou podemos esperar mudanças na sonoridade?

André: O álbum terá nítidas mudanças, todas positivas. Acredito que devido ao fato de termos total controle sobre a produção, pudemos soltar uma musicalidade que sempre existiu, mas devido às pressões do uso de tempo de estúdio, não pôde aflorar. Os arranjos evoluíram bastante. Uma boa parte das músicas tem afinação mais baixa, para assim podermos chegar em riffs mais pesados. Usamos mais teclados do que antes, mas nada que alterasse a identidade da banda. Há arranjos orquestrados, corais com mais harmonizações. O estilo do Thiago na bateria acabou ajudando a levar os arranjos para outra direção, pouco comum para nós. O que posso antecipar é que o álbum se apresentará como uma grande e natural evolução do Vengeance in Black. Grandioso em vários momentos e mais sombrio também.


Ruído Macabro: Como têm sido a aceitação da banda além das fronteiras do Brasil? O Dragonheart possui material à disposição em algum outro país?

Taborda: No início, principalmente, tivemos grande repercussão fora do país, quando tivemos até um fã-clube com pessoas do mundo inteiro. Chegamos a ter contatos para shows na Europa, fazendo um circuito paralelo dos grandes festivais, inclusive o Wacken, porém por dificuldades com datas (seriam mais de 30 dias) e uma brutal falta de dinheiro, acabamos não realizando a turnê.
Sobre nosso material, tivemos o lançamento oficial do Throne Of The Alliance na Rússia, através da gravadora CD-Maximum, trazendo alguns bons resultados, contatos de vários países da região para entrevistas e divulgação. Para o Vengeance In Black tivemos alguns contatos, mas pela forma de atuação das gravadoras e distribuidoras, houve basicamente trocas de CDs e nada foi acertado formalmente.

Ruído Macabro: Considerando a longevidade da banda, pode se dizer que foram poucas as mudanças no line up, o que essas mudanças acrescentaram a sonoridade do Dragonheart?

Taborda: As poucas trocas se explicam pela formação da banda: dois irmãos (Marco e Marcelo Caporasso) e dois amigos de infância (Mauricio Taborda e Eduardo Marques). A única mudança real foi a saída do Eduardo, que teve mudanças em sua vida particular, encheu-se desse estilo musical (e provavelmente dos demais integrantes da banda) e resolveu buscar novas experiências. Graças a isso tivemos a felicidade de encontrar o André Mendes que preencheu com muita competência o lugar deixado em aberto. A entrada do Thiago Mussi aconteceu pela impossibilidade do Marcelo Caporasso dar sequência nos ensaios e shows com a banda, pois se mudou para São Paulo. Mesmo com a distância ele continua participando e opinando junto nas decisões da banda.
Certamente todos poderão ver o quanto crescemos com a participação mais ativa do André nas composições e produção do álbum, além da estreia do Thiago, até mesmo pelas influências dos estilos das bandas em que eles tocaram antigamente/paralelamente.

André: Acredito que a entrada do Thiago trouxe possibilidades de explorar novos arranjos, alguns padrões de convenções rítmicas que nós não fazíamos antigamente.

Ruído Macabro: Desde o Underdark, até o Vengeance in Black, percebeu-se uma divisão dos vocais mais igualitária, dando mais agressividade e versatilidade à música do Dragonheart, gostaria que comentasse sobre esse diferencial de se ter 3 vocalistas.

André: O grande diferencial é justamente termos mais possibilidades de interpretação. Cada um de nós tem sua identidade vocal. Estas identidades se adaptam melhor a determinados tipos de interpretação que nós queremos passar nas letras, para uma melhor apreciação do ouvinte. Ao vivo é muito divertido. A reação de quem nos conhece pouco é curiosa. As pessoas mudam a direção do olhar a cada alteração de vocalista. Para quem já nos conhece, o grande barato é poder observar ao vivo aquilo que está no CD. Dá uma movimentação única à performance da banda. Outra coisa bacana é que não desgasta tanto. Sempre temos o mesmo pique, ritmo. Eu pessoalmente sou fã da voz do Marco e do Maurício. É como se cada um de nós completássemos as vozes que as músicas pedem, quando estamos compondo.

Ruído Macabro: Sir Lokdunam e Mystical Forest são duas músicas espetaculares! Já acompanhei uns 5 ou 6 shows, e nunca as vi serem executadas ao vivo, isso já aconteceu, é possível algum dia?

Taborda: Somente uma vez conseguimos preparar um set acústico em parte de um show, em Julho/2006 em Curitiba, quando juntamos a Sir Lockdunam, Mystical Forest e a The Bard’s Song (Blind Guardian).
Vamos ver como será a aceitação do público quanto ao novo álbum e se possível poderemos tentar repetir algo acústico nos próximos shows.

Ruído Macabro: Como foi ter dois álbuns com a arte de Andreas Marshall? Quem assinará arte do próximo trabalho?

Taborda: Foi maravilhoso termos conseguido trabalhar com um dos maiores artistas de capas de todos os tempos. Colocamos isso como uma meta para o lançamento do Throne Of The Alliance e nosso empresário à época correu atrás e conseguiu. Fomos a primeira banda na América Latina a ter a assinatura dele em nossa capa. O segundo trabalho foi praticamente uma sequência, como a própria história pedia.
Infelizmente não poderemos trabalhar com ele neste novo álbum, uma vez que ele praticamente parou de trabalhar com bandas e vem se dedicando ao cinema, já tendo sido premiado em um dos seus últimos projetos.
Pensamos bastante sobre a escolha do novo artista e fizemos contato com alguns nomes que achamos interessantes. Inclusive quase acertamos com um promissor ilustrador colombiano, mas que infelizmente não se encaixou no que tínhamos em mente. Agora estamos em fase final de negociação com um artista curitibano, que esperamos em breve poder começar a divulgar e provocar a curiosidade de todos.


Ruído Macabro: Qual foi a apresentação mais memorável do Dragonheart ao longo desses anos?

Taborda: Apesar de parecer clichê, é impossível citar apenas um show. Em Nov/2000 participamos de um festival em Presidente Prudente, de aniversário do Programa Stage Diving apresentado pelo Cesinha Crepaldi ao lado de bandas como Tuatha de Dannan e Crusader, feito em uma praça da cidade e com a estimativa de público de 3.000 pessoas. Foi a primeira vez que tocamos a The Blacksmith ao vivo. Depois vieram os BMUs, que promoveram demais a banda e que também ajudamos a consolidar o festival na história do metal nacional. Principalmente na edição de 2002, com o primeiro grande show com o André Mendes em São Paulo, a reação do público foi realmente marcante.

André: Para mim, o BMU de 2002 foi algo mágico. Poucos minutos antes do show começar caiu uma chuva forte e as pessoas que estavam fora da pista, entraram na casa Led Slay. Estava tudo lotado. Mais de 2 mil pessoas gritavam o nome da banda. Era meu segundo show com o Dragonheart. Senti uma pressão enorme, medo de errar. Cantei a primeira música, “Throne Of The Alliance”. O refrão foi “berrado” pelo público. Emociona só de lembrar. Outro momento fantástico foi poder ter conversado com o Ralph Scheepers no primeiro show que fiz, abrindo para o Primal Fear. Ele é um vocalista que admiro muito. Acompanhou parte do nosso show. Ao final da apresentação deles, ele veio até a mim e disse: “fiquei sabendo que foi seu primeiro show com sua banda esta noite. Parabéns rapaz, você foi muito bem”. Acho que ele nem deve lembrar-se desse diálogo, mas foi importante ouvir aquilo de um cara que admiro.


Ruído Macabro: O Próximo álbum põe fim a uma trilogia conceitual iniciada no Throne Of The Alliance, a algum plano, ou alguma ideia, ao finalizar a trilogia, de dar seguimento aos trabalhos, com uma nova ideia conceitual, ou apenas um disco de Heavy Metal?

André: Conversamos muito no ano de 2013 sobre o que faríamos após o término da trilogia. O conceito da história foi criado pelo Marco e, em meio a estas conversas do ano passado, nós pensamos em todas as dificuldades que passamos e que nos impediram de concentrar nossos esforços na banda. Foram diversos problemas pessoais para cada um de nós e, acredito que estas experiências de alguma forma nos modificaram um pouco. Talvez até tenham nos humanizado mais. Nestas conversas nós pensamos em trabalhar as letras do próximo álbum em torno destas experiências, das virtudes que desenvolvemos, dos sentimentos que tivemos, das coisas que superamos. Provavelmente não haverá álbum conceitual por um bom tempo, se a definição de álbum conceitual for criar uma narrativa ficcional uniforme. Talvez o conceito do próximo álbum venha a ser: um disco de heavy metal que trate de emoções vividas por todos nós, no cotidiano, nos enfrentamentos do dia a dia.


Ruído Macabro: Muito obrigado pela entrevista, por darem essa atenção ao Ruído Macabro, o espaço é de vocês!

André: Agradecemos a oportunidade de poder falar para o público que acessa o Ruído Macabro. Estivemos longe nos últimos anos, mas sempre houve aqueles que nos estimulássemos, nos ajudassem com palavras simples e honestas, coisas como “muito legal aquela música ‘x’. Por favor, avisem quando forem fazer show novamente”. Este apoio sempre veio de gente nas casas de shows, bares, rua, blogs, zines, sites de heavy metal que apoiam bandas do underground brasileiro. É isso que nos dá vontade de continuar compondo, gravando, tocando. Obrigado pelo espaço e esperamos poder nos encontrar por ai. Abraços.
Taborda: O André disse tudo! E reafirmo que estas oportunidades, de contato com pessoas que conhecem nosso trabalho, são as coisas mais valiosas nessa história toda. Obrigado mesmo!

Para contato com a banda, acessem: http://www.facebook.com/pages/Dragonheart_METAL/

(Esta entrevista iria inaugurar o site do Ruído Macabro, mas por conta de alguns devaneios, entraremos em um hiato por tempo indeterminado)